Por Celso Vicenzi, jornalista
10/11/2009
Vivemos no “cheque especial”. Não aquele dos bancos. Entramos “no vermelho” foi com o planeta. E vamos pagar caro! Segundo cálculos da Global Footprint Network, desde 23 de setembro de 2008, a humanidade passou a consumir mais recursos do que o planeta pode repor. Foi um alerta assustador, mas parece que ninguém deu muita importância. A Global Footprint Network criou uma ferramenta, a “pegada ecológica”, medida que calcula a área produtiva necessária, de terra e de mar, para produzir tudo o que a humanidade consome – alimentos, roupa, energia – e também para absorver os resíduos que ela gera.
Os dados sobre o que está em curso, com consequências que irão gerar fenômenos climáticos jamais vistos, são alarmantes. Nos próximos 20, 30, 40 anos, haverá mudanças que vão alterar completamente a forma como os humanos ocupam a superfície terrestre. E as notícias não são nada boas.
No entanto, apesar das advertências, há um impasse político: ninguém quer pagar a conta. Não, pelo menos, de forma justa. Afinal, uns têm mais do que outros. Uns consomem mais e, consequentemente, poluem mais, causam mais impacto ao planeta. Um exemplo: dados do PNUD 2007-2008 mostram que os 20% mais ricos do mundo absorvem 82,4% de todas as riquezas da Terra, enquanto os 20% mais pobres têm que se contentar com apenas 1,6%.
Produzimos diariamente 6,5 bilhões de quilos de lixo que empestam a terra, a água e o ar. Uma quantidade muito pequena é reciclada ou depositada em aterros sanitários. E vivemos como se este veneno tóxico – que se mistura às toneladas de agrotóxicos que jogamos nos alimentos – não fosse voltar, um dia, para nós. Comemos lixo e veneno com sabores e odores muito bem disfarçados pela indústria de alimentos. Bom apetite!
As geleiras não param de derreter, florestas viram savanas que viram desertos. E as pessoas só querem saber da última novidade tecnológica, do carro que vão comprar no fim do ano, do computador, do dinheiro. Money, money, money. De que servia todo o dinheiro dos ricos a bordo do Titanic? Diante de uma catástrofe, a morte não pede licença. Nem a ricos, nem a pobres. Quando novas doenças chegarem com uma velocidade e uma virulência devastadora, como prevêem cientistas, as respostas da medicina e da tecnologia serão insuficientes para deter a avalanche de mortos. E vírus mortais são muito democráticos, não perguntam quanto você tem depositado no banco.
O que causa mais espanto e incredulidade é: por que caminhamos, passivamente, para um suicídio coletivo? O planeta Terra não corre nenhum risco, pois continuará a existir. Quem corre risco de desaparecer são os seres humanos (ou, na melhor das hipóteses, uma boa parte), apesar da descrença dos que ainda não tiveram suficiente inteligência para perceber o que está para acontecer. Mas sabedoria nunca foi o forte da espécie humana ou o mundo não seria do jeito que é.
Mas quanto custa, afinal, para salvar o planeta de um aquecimento global com consequências imprevisíveis? Há vários estudos, várias cifras, todas quase insignificantes quando comparadas a outros gastos. Segundo o IPCC, o painel do clima das Nações Unidas em seu Quarto Relatório de Avaliação, seriam necessários apenas 2% do PIB mundial ou US$ 892 bilhões por ano. Em pouco mais de uma semana, no auge da recente crise financeira global, os governos de vários países desembolsaram US$ 4 trilhões para salvar bancos e empresas. Sempre houve muito dinheiro para socorrer o capital, quase nenhum para salvar vidas humanas. Bastariam US$ 40 bilhões anuais para que 1 bilhão de pessoas que passam fome pudessem desfrutar do mais elementar direito humano: o direito à alimentação, que é o direito à vida. Para garantir água potável e saneamento para 2,5 bilhões de pessoas no mundo, que não contam com esses serviços, custaria cerca de US$ 55,7 bilhões por ano. Veja o orçamento militar mundial em 2008: US$ 1 trilhão e 46 bilhões – um aumento de 45% nos últimos 10 anos. Os gastos militares dos EUA são de 41% desse total.
Quer reduzir o estrago que você causa ao planeta? Quer reduzir a sua pegada ecológica? Acesse
www.wwf.org.br/wwf_brasil/pegada_ecologica e faça o teste. Há milhares de coisas que podemos fazer no dia-a-dia: trocar copos descartáveis no local de trabalho por copos de vidro, comer menos carne vermelha, usar ventilador de teto no lugar de ar-condicionado (90% de redução de energia), usar pilhas e baterias recarregáveis, trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes, tomar banhos de chuveiro mais rápidos, reciclar tudo que puder, reduzir o uso de embalagens, comprar produtos feitos com material reciclado, comprar móveis com madeiras certificadas, comprar alimentos produzidos na própria região, comprar alimentos orgânicos, desligar da tomada aparelhos que não estão sendo usados. Faça a sua própria lista, comece a mudar hábitos.
Se não por você, pelas gerações futuras, que sofrerão as consequências, se formos omissos.
Fonte:
https://www.acontecendoaqui.com.br/